Cleymoore



Facebook
Soundcloud
Pluie/Noir


Cleymoore é o nome artístico de Bruno Santos que hoje em dia é uma das maiores promessas da musica nacional no que toca à musica de dança mais ecléctica. Reconhecimento no estrangeiro este português já tem, mas em Portugal o que realmente tem valor, muitas vezes não é reconhecido na altura devida, ou nos piores casos nunca o chega a ser. É também fundador da Pluie / Noir, uma label com pés e cabeça que conta com a participação de grandes artistas internacionais como Alex Smoke, Ditch ou Dr. Nojoke.
Por isso para nós foi um enorme prazer entrevistar este artista nacional, e dar o nosso contributo para que o seu trabalho seja devidamente reconhecido. Deixa-mos também aqui um belo EP da autoria do mesmo que conta com bons remix´s de talentos estrangeiros e portugueses e que o seu download é completamente gratuito.

Como começou esse teu gosto pela música electrónica?

Influência paterna. O meu pai mostrou-me desde muito novo o que era, para ele, a música electrónica no seu estado mais puro. Jean-Michel Jarre, Kraftwerk, Vangelis, Tangerine Dream. Aos 11 anos de idade dei por mim a explorar Laurie Anderson e Bjork, discos da colecção dele de vinyl e cd. Na minha êadolescncia ouvia imenso electronica experimental, trip-hop, post e prog-rock, electro clash. O gostinho pelo house e techno vieram no meu último ano de liceu depois de ouvir, duma forma meio cliché, a 808 Bass Queen de Ricardo Villalobos (que na altura eu nem sabia quem era).

Qual o teu primeiro disco?

O meu primeiro disco (que não dos oferecidos pelo meu pai) foi “Rubies feat. Feist – I Feel Electric (TieDye Remix)” da Italians do it Better. Foi uma prenda duma grande amiga na altura em que decidi começar a comprar vinyl. Era residente do café do Teatro Maria Matos e do Manga Rosa Lounge e senti vontade de começar a coleccionar discos. O primeiro disco que comprei foi “N.S.I. - Clara Ghavani Extended” da Cadenza, do projecto de Tobias Freund com o Max Loderbauer que ainda hoje admiro e tenho o maior respeito.

Existe algum significado especial para o nome Cleymoore?

Absolutamente nenhum. A raiz do nome veio da minha veia mais geek. “Claymore” era uma série de anime que eu via na altura, e é também o nome de uma das espadas mais pesadas da época medieval e é também o nome duma das minas mais comuns utilizadas pelo exército. Uma ligeira troca de letras na palavra e ficou Cleymoore. As pessoas tratam-me por Cley e parece que colou. Can't do a thing about it now.

 

Vinil ou digital? Qual o formato que gostas mais de tocar?

Sem dúvida alguma, vinyl. Alias, é o único formato que compro e toco sempre que possível. Sinceramente, nem experiência tenho com cd-j's. O vinyl torna um dj-set mais pessoal. Uma mala de 50 discos escolhidos antes de um gig pode ser maravilhoso ou fatal, é um risco, e é daí que vem o thrill. Ter um disco rígido com músicas compradas e uma lista infindável de músicas por onde escolher tira esse risco, essa personalidade inerente à escolha pessoal. Os djs da actualidade vendem a alma aos tops do Beatport, o digging e a procura de temas que verdadeiramente gostamos e que nos podem definir como djs está a chegar a um fim. Tendenciosamente, o djset torna-se menos teu e mais da pista porque facilmente puxas tudo aquilo que o público quer ouvir, em vez de tentares moldar os discos que tens e os utilizares da melhor maneira possível. Sem falar do facto de que há material impossível de arranjar em formato digital, e que podem fazer/fazem toda a diferença. 

 

Qual o teu artista português preferido?

Neste momento, o Diogo Magalhães. É o único produtor com que me identifico dado que exploramos os dois uma área idêntica, baseada em micro-sistemas modulares e bastante detalhada, que muitas vezes se torna difícil para o público em geral ouvir, compreender ou dançar. Daí estarmos a colaborar num projecto juntos de nome Mcrchp (Microchip Audio), pela sinergia e compreensão mútua que sentimos.
Outros artistas que me tiram do sério actualmente são os Niagara, que têm imenso talento e fazem um trabalho interessantíssimo, IVVO, que é o “Actress” português, e Photonz, que não precisam de apresentação. Estes 3 nomes são apenas 3 exemplos de projectos que eu considero serem verdadeiramente importantes para o país, que provam ter uma personalidade irreverente e características pessoais vincadas. O som deles traduz-se numa assinatura áudio muito específica que eu considero importante ter enquanto artista que pode demorar anos a conseguir ter.. o Jens Zimmermann demorou 10 anos a criar a assinatura dele, e hoje toda gente conhece um tema dele quando o ouve. Aquele click auditivo que sentes quando ouves Burial porque é Burial, eu sinto que é Photonz quando é Photonz, and that's wonderful.

Fala-nos um pouco da Pluier / Noir, como começou, qual o seu conceito, planos futuros e lançamentos recentes.

A P/N é um projecto que visionei no meu primeiro ano de faculdade que consistia na tradução áudio-gráfica entre artistas de áreas diferentes. Actualmente o projecto cresceu e estabeleceu-se como um colectivo de artistas nacionais e (maioritariamente) internacionais. Designers, Produtores, Djs, Pintores, Ilustradores. Depois de escolher todos os artistas que queria ver a trabalhar juntos, o projecto começou a andar sozinho. Troca de ideias e colaborações começaram a acontecer quase de forma inata dentro do colectivo. O primeiro passo lógico foi mesmo uma série de podcasts em que esta energia/sinergia fosse demonstrada, num formato pouco convencional para um podcast bi-mensal. Cada episódio é feito por um produtor ou dj, em formato de colagem, mix ou até mesmo produção pessoal como foi o caso do último episódio (006). Essa sessão áudio é depois interpretada por um dos artistas da área gráfica num tríptico de posters. O Podcast sai no inicio e no meio de cada mês, e é sempre apresentado, um dia antes do episódio, um video teaser. Os nossos planos futuros estão, de facto, já a acontecer. A P/N Recordings vai ter a sua estreia, espero eu, em Junho. Será uma editora exclusivamente de vinyl com artistas que admiro e me identifico, e terá uma ponte com o colectivo na medida em que editaremos alguns dos artistas que estão nele neste momento. Quero vê-los crescer. Mas o foco principal no momento é mesmo criar um nome forte por trás da P/N, criar respeito pela editora e demonstrar que um selo portugues, tal como a Assemble Music, consegue editar alguns dos melhores e mais importantes artistas da cena actual. Posso dizer desde já que o nosso primeiro lançamento (assinado por um grande senhor romeno que me é bastante querido) já foi masterizado pelo Rashad Becker, e está neste momento em fase de test pressing e printing, e sinto-me orgulhoso com o que vem aí e passo os meus dias nervosos à espera do dia em que a Intergroove os vai por à venda no mundo inteiro. Cross my fingers!

O teu sucesso além-fronteiras é maior que em terras lusas, poderá isso ter a ver com a tendência dos portugueses em acrescentar sempre valor ao que vem de fora, em vez de valorizar o que é nacional?


Acho que o problema é fundamentalmente meu. Nunca quis fazer música fácil. Aprendi a produzir sozinho e isso fez com que eu me tornasse um milhão de vezes mais curioso e explorador, inevitavelmente as minhas faixas tornaram-se altamente pessoais, longuíssimas e quase impossíveis de tocar num djset. Se eu tivesse explorado o easy clubbing se calhar o meu nome era mais falado em Portugal, mas nunca senti pressa nem vontade de me tornar conhecido muito cedo, soube-me bem explorar e aprendi mais do que alguma vez imaginei. Sinto-me um jedi actualmente, capaz de produzir tudo o que imagino na minha cabeça. Acho que tudo leva o seu tempo e tudo é, no fundo, um processo. Mas tal como eu, a própria pluie/noir é underground e estranhamente encontro na Russia e na Roménia (sem falar da Alemanha ou EUA) dois núcleos de apoio fortíssimos que compreendem e sentem intensamente o amor que ponho tanto no meu projecto pessoal como no meu colectivo. Quando toquei no Grow em Moscovo o público recebeu-me como nunca nenhum público português o fez. Senti-me de coração cheio e aquecido, fui respeitado e tratado como se eu fosse o Ricardo Villalobos da nova geração e tive, tanto durante o djset como durante o live-act, uma audiência vibrante. Por um lado fico triste de nunca ter sentido isto em Portugal, por outro tenho a certeza que se lá fora sou valorizado é porque alguma coisa estou a fazer bem. E sinceramente, eu trabalho para o mundo, não para Portugal. É mais “rewarding” e posso sonhar mais alto.

Em Portugal qual a casa ou espaço, que mais gostas-te de tocar?

O Manga Rosa Lounge. Nunca tive um público dançante, apenas pessoas gostavam verdadeiramente de música, e apreciavam a sessão da maneira correcta. Era um público caixa aberta, disposto a ouvir tudo. Eu podia girar um disco da Raster Noton ou um da Stones Throw que o entusiasmo era o mesmo. Sentia-se uma curiosidade e um bom gosto que nunca senti muitas vezes. Música nova e diferente era “praised” a maior parte das vezes. A nível de clubbing, o Frágil é uma casa interessante. Das últimas 2 vezes que lá toquei (ambas noites Dogtown do João Maria) senti-me bastante bem e havia uma energia incrível que não consigo explicar.