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Pluie/Noir
Cleymoore é o nome artístico de Bruno Santos que hoje em dia é
uma das maiores promessas da musica nacional no que toca à musica de
dança mais ecléctica. Reconhecimento no estrangeiro este português já
tem, mas em Portugal o que realmente tem valor, muitas vezes não é
reconhecido na altura devida, ou nos piores casos nunca o chega a ser. É
também fundador da Pluie / Noir, uma label com pés e cabeça que conta com a participação de grandes artistas internacionais como Alex Smoke, Ditch ou Dr. Nojoke.
Por isso para nós foi um enorme prazer entrevistar este artista nacional, e dar o nosso contributo para que o seu trabalho seja devidamente reconhecido. Deixa-mos também aqui um belo EP da autoria do mesmo que conta com bons remix´s de talentos estrangeiros e portugueses e que o seu download é completamente gratuito.
Por isso para nós foi um enorme prazer entrevistar este artista nacional, e dar o nosso contributo para que o seu trabalho seja devidamente reconhecido. Deixa-mos também aqui um belo EP da autoria do mesmo que conta com bons remix´s de talentos estrangeiros e portugueses e que o seu download é completamente gratuito.
Como começou esse teu gosto pela música electrónica?
Influência paterna. O meu pai
mostrou-me desde muito novo o que era, para ele, a música electrónica no seu
estado mais puro. Jean-Michel Jarre, Kraftwerk, Vangelis, Tangerine Dream. Aos
11 anos de idade dei por mim a explorar Laurie Anderson e Bjork, discos da
colecção dele de vinyl e cd. Na minha êadolescncia ouvia imenso electronica
experimental, trip-hop, post e prog-rock, electro clash. O gostinho pelo house
e techno vieram no meu último ano de liceu depois de ouvir, duma forma meio
cliché, a 808 Bass Queen de Ricardo Villalobos (que na altura eu nem sabia quem
era).
Qual o teu primeiro disco?
O meu primeiro
disco (que não dos oferecidos pelo meu pai) foi “Rubies feat. Feist
– I Feel Electric (TieDye Remix)” da Italians do it Better. Foi uma prenda duma grande amiga na
altura em que decidi começar a comprar vinyl. Era residente do café do Teatro
Maria Matos e do Manga Rosa Lounge e senti vontade de começar a coleccionar
discos. O primeiro disco que comprei foi “N.S.I. - Clara Ghavani Extended” da
Cadenza, do projecto de Tobias Freund com o Max Loderbauer que ainda hoje
admiro e tenho o maior respeito.
Existe algum significado especial para o nome Cleymoore?
Absolutamente nenhum. A raiz do nome
veio da minha veia mais geek. “Claymore” era uma série de anime que eu via na
altura, e é também o nome de uma das espadas mais pesadas da época medieval e é
também o nome duma das minas mais comuns utilizadas pelo exército. Uma ligeira
troca de letras na palavra e ficou Cleymoore. As pessoas tratam-me por Cley e
parece que colou. Can't do a thing about it now.
Vinil ou digital? Qual o formato que gostas mais de tocar?
Sem dúvida alguma, vinyl. Alias, é o
único formato que compro e toco sempre que possível. Sinceramente, nem
experiência tenho com cd-j's. O vinyl torna um dj-set mais pessoal. Uma mala de
50 discos escolhidos antes de um gig pode ser maravilhoso ou fatal, é um risco,
e é daí que vem o thrill. Ter um disco rígido com músicas compradas e uma lista
infindável de músicas por onde escolher tira esse risco, essa personalidade
inerente à escolha pessoal. Os djs da actualidade vendem a alma aos tops do
Beatport, o digging e a procura de temas que verdadeiramente gostamos e que nos
podem definir como djs está a chegar a um fim. Tendenciosamente, o djset
torna-se menos teu e mais da pista porque facilmente puxas tudo aquilo que o
público quer ouvir, em vez de tentares moldar os discos que tens e os
utilizares da melhor maneira possível. Sem falar do facto de que há material
impossível de arranjar em formato digital, e que podem fazer/fazem toda a
diferença.
Qual o teu artista português preferido?
Neste momento, o Diogo Magalhães. É o
único produtor com que me identifico dado que exploramos os dois uma área
idêntica, baseada em micro-sistemas modulares e bastante detalhada, que muitas
vezes se torna difícil para o público em geral ouvir, compreender ou dançar. Daí estarmos a colaborar num projecto juntos de nome Mcrchp (Microchip Audio), pela sinergia e compreensão mútua que sentimos.
Outros artistas que me tiram do sério
actualmente são os Niagara, que têm imenso talento e fazem um trabalho
interessantíssimo, IVVO, que é o “Actress” português, e Photonz, que não
precisam de apresentação. Estes 3 nomes são apenas 3 exemplos de projectos que
eu considero serem verdadeiramente importantes para o país, que provam ter uma
personalidade irreverente e características pessoais vincadas. O som deles
traduz-se numa assinatura áudio muito específica que eu considero importante
ter enquanto artista que pode demorar anos a conseguir ter.. o Jens Zimmermann
demorou 10 anos a criar a assinatura dele, e hoje toda gente conhece um tema
dele quando o ouve. Aquele click auditivo que sentes quando ouves Burial porque
é Burial, eu sinto que é Photonz quando é Photonz, and that's wonderful.
Fala-nos um pouco da Pluier / Noir, como começou, qual o seu conceito, planos futuros e lançamentos recentes.
A P/N é um projecto que visionei no meu
primeiro ano de faculdade que consistia na tradução áudio-gráfica entre
artistas de áreas diferentes. Actualmente o projecto cresceu e estabeleceu-se
como um colectivo de artistas nacionais e (maioritariamente) internacionais.
Designers, Produtores, Djs, Pintores, Ilustradores. Depois de escolher todos os
artistas que queria ver a trabalhar juntos, o projecto começou a andar sozinho.
Troca de ideias e colaborações começaram a acontecer quase de forma inata
dentro do colectivo. O primeiro passo lógico foi mesmo uma série de podcasts em
que esta energia/sinergia fosse demonstrada, num formato pouco convencional
para um podcast bi-mensal. Cada episódio é feito por um produtor ou dj, em
formato de colagem, mix ou até mesmo produção pessoal como foi o caso do último
episódio (006). Essa sessão áudio é depois interpretada por um dos artistas da
área gráfica num tríptico de posters. O Podcast sai no inicio e no meio de cada
mês, e é sempre apresentado, um dia antes do episódio, um video teaser. Os
nossos planos futuros estão, de facto, já a acontecer. A P/N Recordings vai ter
a sua estreia, espero eu, em Junho. Será uma editora exclusivamente de vinyl
com artistas que admiro e me identifico, e terá uma ponte com o colectivo na
medida em que editaremos alguns dos artistas que estão nele neste momento.
Quero vê-los crescer. Mas o foco principal no momento é mesmo criar um nome
forte por trás da P/N, criar respeito pela editora e demonstrar que um selo
portugues, tal como a Assemble Music, consegue editar alguns dos melhores e
mais importantes artistas da cena actual. Posso dizer desde já que o nosso
primeiro lançamento (assinado por um grande senhor romeno que me é bastante
querido) já foi masterizado pelo Rashad Becker, e está neste momento em fase de
test pressing e printing, e sinto-me orgulhoso com o que vem aí e passo os meus
dias nervosos à espera do dia em que a Intergroove os vai por à venda no mundo
inteiro. Cross my fingers!
O teu sucesso além-fronteiras é maior que em terras lusas, poderá isso ter a ver com a tendência dos portugueses em acrescentar sempre valor ao que vem de fora, em vez de valorizar o que é nacional?
Acho que o problema é fundamentalmente
meu. Nunca quis fazer música fácil. Aprendi a produzir sozinho e isso fez com
que eu me tornasse um milhão de vezes mais curioso e explorador, inevitavelmente
as minhas faixas tornaram-se altamente pessoais, longuíssimas e quase
impossíveis de tocar num djset. Se eu tivesse explorado o easy clubbing se
calhar o meu nome era mais falado em Portugal, mas nunca senti pressa nem
vontade de me tornar conhecido muito cedo, soube-me bem explorar e aprendi mais
do que alguma vez imaginei. Sinto-me um jedi actualmente, capaz de produzir
tudo o que imagino na minha cabeça. Acho que tudo leva o seu tempo e tudo é, no
fundo, um processo. Mas tal como eu, a própria pluie/noir é underground e
estranhamente encontro na Russia e na Roménia (sem falar da Alemanha ou EUA)
dois núcleos de apoio fortíssimos que compreendem e sentem intensamente o amor
que ponho tanto no meu projecto pessoal como no meu colectivo. Quando toquei no
Grow em Moscovo o público recebeu-me como nunca nenhum público português o fez.
Senti-me de coração cheio e aquecido, fui respeitado e tratado como se eu fosse
o Ricardo Villalobos da nova geração e tive, tanto durante o djset como durante
o live-act, uma audiência vibrante. Por um lado fico triste de nunca ter
sentido isto em Portugal, por outro tenho a certeza que se lá fora sou
valorizado é porque alguma coisa estou a fazer bem. E sinceramente, eu trabalho
para o mundo, não para Portugal. É mais “rewarding” e posso sonhar mais alto.
Em Portugal qual a casa ou espaço, que mais gostas-te de tocar?
O Manga Rosa Lounge. Nunca tive um
público dançante, apenas pessoas gostavam verdadeiramente de música, e
apreciavam a sessão da maneira correcta. Era um público caixa aberta, disposto
a ouvir tudo. Eu podia girar um disco da Raster Noton ou um da Stones Throw que
o entusiasmo era o mesmo. Sentia-se uma curiosidade e um bom gosto que nunca
senti muitas vezes. Música nova e diferente era “praised” a maior parte das
vezes. A nível de clubbing, o Frágil é uma casa interessante. Das últimas 2
vezes que lá toquei (ambas noites Dogtown do João Maria) senti-me bastante bem
e havia uma energia incrível que não consigo explicar.