José Belo

 
José Belo, é um dos fundadores e dj da Bloop Recordings, a tal equipa que costuma proporcionar boas festas, com sorrisos e tambem muita e boa musica. Ele que prontamente nos concedeu uma entrevista onde se fala de tudo um pouco, onde entre opiniões e conselhos fica uma bela imagem, a imagem de um artista que muito tem para dar a esta cultura tão bonita que é a musica de dança. 
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Entrevista a José Belo 

A Bloop é hoje em dia uma das mais conhecidas labels deste país, como tudo começou?

Começou na pista de dança a ouvir outros djs. Não acredito que consigas fazer algo de jeito numa editora de música de dança se não tiveres um gosto genuíno pela pista. Se não tiveres feito parte daquela gente. Não quero ser como um padre a falar de sexo, tenho de saber o que acontece numa pista de dança. 
Bloop Recordings é também sinal de matines inesquecíveis, foi algo pensado, ou o facto de apostarem num formato de festa que estava morto aconteceu naturalmente?
Acho que foi natural. Já viste o tempo que temos? Do melhor sol da Europa. Se andamos sempre a medir-nos com a Europa, ponham a OCDE a medir isto e nós, os italianos, os espanhóis e os gregos estamos à frente de toda a gente. E, acredita, é porque temos este Sol que gostamos tanto da boa vida. Quem é que quer estar num escritório se tem as praias da Linha logo ali ao lado? Se os amigos podem todos lá ir ter em 10 minutos? Se eu fosse dum país do Norte, a melhor parte do dia era estar no escritório. Aqui, é a pior parte. Com isto tudo, torna-se óbvio que Portugal tem de fazer mais festas de dia.
Como vês o panorama nacional neste mundo que é a música de dança e tudo o que ela implica?

Está a mudar, para melhor. E não estou a ser politicamente correcto. Acho que estamos todos demasiado absorvidos pelos nossos problemas e tendemos a protestar com tudo. Faz parte do nosso código genético. Mas temos aqui grandes djs, por exemplo. Gente que fez a vida a tocar para gente que não gosta assim tanto de música de dança e que os consegue fazer dançar. Não é nada nada fácil e exige um trabalho enorme de tentar perceber como é que o meu gosto e o gosto do público se intersecciona. A bloop permite que toque com os melhores djs do mundo e, sinceramente, são poucos os que me levam a dizer “sim senhor, não há disto cá”. Temos aqui djs do caraças. Onde falhamos é ao nível da produção, há poucos produtores que conseguiram sair do anonimato. Mas, vou-te ser sincero, com aquilo que tenho visto e ouvido, está para acontecer para breve o primeiro produtor nacional no século XXI com um hit mundial. O nível de produção está a aumentar e se os produtores conseguirem jogar este jogo bem, chegam lá. 
Se pudesses dar um conselho a um jovem que quer arriscar neste meio, como dj qual darias?

Ouve música. E não só música de dança. O José Mourinho está sempre a dizer uma frase que o Manuel Sérgio lhe ensinou na faculdade: “Se só sabes de futebol, não sabes de futebol.” Aqui é a mesma coisa, se só sabes de música de dança, não sabes de música de dança. Se és dj, tens uma pista à frente feita de gente de todos os quadrantes. Gente que gosta de música de dança, gente que não gosta de música de dança, gente que gosta do teu gosto, gente que não gosta do teu gosto, gente que nem sequer lá queria estar... E tens de os meter a dançar com os discos que tens. Quanto mais souberes de música, mais vocabulário tens para chegar a todos eles. Não acredito em djs que só gostam de música de dança. Sinto que falta sempre algo.
Na tua opinião o que diferencia um bom e um mau dj?


Cultura musical. Acho que é o mais importante. Quando oiço um dj a tocar, gosto que ele meta alma naquilo que faz. O Ricardo Villalobos toca músicas com influências latinas? Acho muito bem que toque, ele é chileno. Agora um dj português faz sentido? Não temos tradição nenhuma na salsa e no merengue, porque haveríamos de tocar algo assim? Vejo um bom dj quando é sincero no que faz e que, mesmo assim, consegue pôr toda a gente a dançar. Não tenho paciência para djs que só tocam para eles próprios. Numa de “este é o meu gosto, amanhem-se”. Acho que é o melhor exemplo do que é, para mim, um mau dj.

Vivemos numa época em que toda gente acha que pode ser dj, achas que isto é um assunto que deve ser debatido com muita seriedade, ou és da opinião de que cada um tem direito ao seu espaço?


Acho que antes de discutir se todos podem ser dj, acho que temos de discutir sobre o que é ser dj. Isto é uma profissão? É um hobby? Dá para viver disto? Dá para descontar para a Segurança Social? Dá para ir a um banco e ter algum crédito profissional para pedir um empréstimo? Só depois de dizeres a toda a gente o que é ser um dj é que podes começar a dizer se este ou aquele é dj.

E uma estrela de cinema, do rock ou de outra coisa qualquer pode querer tocar uns discos um dia? Claro. Mas um gajo famoso que vá a um daqueles jogos de beneficiência do Figo não passa a ser futebolista só por causa disso. É a mesma coisa aqui. Agora, coisa diferente é teres gente que não gosta de música ou que não tem relação nenhuma com a música a tocar discos porque quer ganhar dinheiro. O público que seja esperto e que perceba o que está a pagar.
Achas que a grave crise económica e social que estamos a passar influencia de forma negativa a musica de dança e os negócios a ela ligados?


A bloop está a funcionar em contra-ciclo, temos mais convites, mais gente que ouviu falar de nós, mais festas, mais tudo. Mas sem crise, não tenhas dúvidas, tínhamos mais meios e estávamos a fazer um trabalho ainda melhor. E notas que as pessoas vão com outro peso para as festas do que há uns anos atrás. Têm contas para pagar, têm a prestação a vencer, têm a renda para pagar até dia 8. Muitas estão com 20, 30 euros na conta e mesmo assim vão às nossas festas porque tem de ser. Tenho muito orgulho na bloop por dar esta janela de felicidade às vidas difíceis que grande parte de nós tem.

Eu só quero é que as pessoas tenham mais alma, sabes? A crise social de que falas existe porque estamos a cortar na cultura. O Dan Ariely diz que o ser humano não é capaz de escolher sem comparar. E a cultura dá-nos isso, termo de comparação. O facto de sermos tão periféricos faz com que estejamos sempre a viver com esta necessidade de validação do exterior. Ter a troika cá é a melhor coisa para quem não tem termo de comparação. “Estas avaliações todas positivas, que maravilha! Afinal, não somos assim tão maus!” Estamos constantemente a ter necessidade de nos comparar quando somos muito melhores do que pensamos. Não temos é dinheiro. Mas teres dinheiro faz-te rico, não te faz melhor. A cultura faz-te melhor. E faz-te teres noção de que és melhor.

Na tua opinião as promotoras de eventos apostam o suficiente em novos talentos nacionais?


Não, de todo. E vês isso nas coisas simples. Tens uma data de eventos onde os nomes dos portugeses são sempre em tamanho inferior ao dos djs estrangeiros. Ou então nem sequer são mencionados. Ou pior, são todos incluídos num rotundo “e os melhores djs nacionais!” com ponto de exclamação e tudo. Mas lá está, isto é um pouco do que falava atrás, da necessidade que temos de nos validar com o estrangeiro. De dar espaço ao que vem de fora, ignorando o que é nosso.

Por isso, se se faz isto com “os melhores djs nacionais”, como é que vais dar espaço aos novos talentos como deve ser? Como é que um dj pode crescer se anda a tocar de borla porque “isto vai ser bom para ti, vais-te promover”? Como é que cresce se nem o nome dele aparece? Até o provérbio diz para “cresceres e apareceres”, não é? Cresceres sem aparecer não funciona.
Qual o teu dj preferido a nível nacional?

São três: o Magazino, o Zé Salvador e o Tiago Marques. Não se escolhe entre irmãos nem se escolhe para lá deles.